12 de julho de 2007

Fotografia: primeiro semestre

Então... (como não se deixar contagiar pelo "então", um dos nexos mais práticos e irresistíveis do português falado, morando em São Paulo?). O primeiro semestre da faculdade acabou e eu posso dizer que ele, somado às novas amizades, tem feito a experiência de morar numa cidade tao ríspida como Sao Paulo valer a pena. E aqui tá o meu projeto final do semestre (todo semestre vou ter que fazer um), um texto e um audiovisual, em versão beta, a ser concluído. O tema do trabalho era "a descoberta da fotografia".






A (re)descoberta da fotografia e a descoberta de uma cidade

A fotografia entrou na minha vida de mansinho, como quem não quer nada. Há alguns anos atrás, com o desejo de ter uma câmera fotográfica totalmente minha, comprei minha primeira câmera: uma automática panorâmica. As fotos de festas, amigos e viagens me impulsionaram a aprender mais, comprar uma câmera com controles manuais e fazer um curso de introdução à fotografia, para aprender “de verdade” a fotografar. A situação de estar apenas trabalhando, sem nenhum interesse forte por nenhum curso superior, me dava liberdade para uma dedicação preguiçosa, por óbvio, a alguns “hobbies”. Uma coisa levou à outra, um curso a outro e uma câmera à outra até que, no ano passado, em Porto Alegre, eu estava participando de um fotoclube, já havia participado de algumas exposições coletivas e estava finalmente comprando minha primeira DSLR, pronto para uma viagem pela América de encher os olhos (e as memórias digitais). Eis que, numa noite congelante no meio do Deserto do Atacama, um fator me fez repensar a já outras vezes descartada idéia de investir pesado na fotografia cursando o único bacharelado existente no país, na megalópole cheia de poluição, aço e pedra: conheci um casal de paulistas e me dei conta de que em São Paulo havia, inclusive, gente legal. Naquela noite de -20 graus celsius, a balança funcionou até quase o amanhecer e uma semente brotou. Seis meses depois, por casualidade ou não no dia 8 de Janeiro, dia do fotógrafo, estava eu chegando de mala e cuia em São Paulo.
A minha redescoberta da fotografia se revela indissociável da descoberta de uma cidade que me assusta, encanta, cansa, empolga e quase me afoga de novos estímulos visuais, sonoros, culturais e todas as reações a eles, que em mim borbulham. Navego em um mar mais difícil em meio a novas experiências, boas e ruins, descobertas, aprendizados e recompensas. A adaptação se aproxima cada vez mais, acompanhando o sol e a garoa que se alternam, um dia após o outro. E em meio a tudo isso, mesmo com a desestimulante jornada diária de 8 horas de trabalho vou redescobrindo, empolgado, a fotografia, sentindo com nitidez a individualidade e a velocidade da metrópole pós-moderna de que falam Zygmunt Bauman e Beatriz Sarlo nas leituras propostas no curso, a curiosidade despertada pelas aulas sobre as descobertas históricas da fotografia, a criatividade estimulada pelos exercícios de desenho e desafios de todos os professores e o prazer em aprender e praticar revelar com minhas próprias mãos meus primeiros pinholes, fotogramas e filmes preto-e-branco.
O ensaio proposto para o projeto do semestre busca sintetizar o meu processo de redescoberta da fotografia em uma nova cidade. O suporte escolhido, o audiovisual, justifica-se por produzir com maior eficácia o efeito pretendido, de velocidade e passagem do tempo. A música escolhida busca reforçar essa idéia e as de pós-modernidade e pluralidade e, também, expressa o processo interno, simbolizado pelas imagens quase abstraídas por suas gotas da chuva (que também representam a descoberta da “terra da garoa”), feitas no interior de um ônibus que percorria a cidade num dia chuvoso, como que a navegar pelas veias de um gigante. As outras imagens utilizadas, de um conjunto de telhados e prédios do bairro Bexiga, são parte de um estudo de luz que eu fiz da janela do meu quarto, e representam a idéia de processo (de que muitas vezes estamos inconscientes) e passagem dos dias, numa seqüência de ciclos que compõe e envolve nossas experiências.
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